terça-feira, 27 de maio de 2025

Promessa do kart brasileiro, o curitibano Dimy Kalinowski é o primeiro piloto autista profissional do país

Dimy e a mãe Branca — Foto: Reprodução/Instagram
Atleta sonha em seguir carreira no automobilismo e fala sobre abrir portas para outras pessoas com transtorno do espectro autista


Os automóveis encantam Dimy desde pequeno. O garoto, que nasceu e passou parte da infância em Curitiba, costumava acompanhar o automobilismo pela televisão e dizia que se tornaria piloto.

Aos quatro anos, os pais deram um carro elétrico, uma pequena réplica da Ferrari, para ele. Pouco depois, Dimy deu a sua primeira volta de kart em uma pista de um shopping center. "Passei a correr nessa pista de kart ocasionalmente, quando algum familiar me levava", diz o jovem.

A paixão pelo esporte a motor cresceu cada vez mais. Ele gostava de ver carros, escutar barulho de motos e acompanhar corridas. Com frequência, insistia para que familiares o levassem para correr em kartódromos de forma amadora.

"Com oito anos, pedi ao meu pai para abandonar a escola e ser piloto, mas ele não aceitou", conta. Dimy diz que posteriormente pediu outras vezes para parar de estudar e se dedicar exclusivamente ao automobilismo, mas os pais não concordaram.

Ele afirma que se sentiu frustrado com a situação. "Eu não conseguia aceitar que teria que ser outra coisa que não fosse piloto. Cheguei até a tentar suicídio aos 11 anos. Como sobrevivi, pensei: é melhor seguir em frente", diz.

Então, ele continuou participando de disputas amadoras. Segundo sua mãe, o filho sempre se destacava nessas competições e recebia elogios.


O Autismo

Dimy (com o kart de número 88) participou do primeiro campeonato de kart meses atrás
Foto: Divulgação/Alexandre Oliveira


O modo como lidava com o interesse pelo automobilismo, que fazia com que não desse atenção a outros temas, fez sentido para Dimy e para a mãe dele por causa de um diagnóstico que ele recebeu aos 15 anos: Transtorno do Espectro Autista (TEA), popularmente conhecido como autismo.

O transtorno é uma desordem complexa no desenvolvimento cerebral — há diversos estudos para apurar a origem, mas não há uma conclusão até o momento. Entre as características do TEA estão dificuldades de socialização e comunicação, comportamentos repetitivos e interesses restritos.

"O Dimy é o primeiro piloto de corrida federado como autista da história do automobilismo brasileiro. Ele é um autista do nível dois de suporte, com hiperfoco em automobilismo. Ele tem uma dificuldade social muito grande, rigidez de pensamento, por isso ele não abre mão de ser piloto, não há plano b", explicou a mãe Branca.

Dimy contou que sua grande paixão pelo automobilismo começou já quando ele era criança: "Desde infância, gosto de corridas desde pequeno, sempre quis ser piloto de corrida, mas só tive oportunidade de começar recentemente. Estou abrindo as possibilidades para muitas pessoas com autismo. Os autistas podem fazer muita coisa, o diagnóstico não significa incapacidade total para todos."

"Meu maior sonho é ser piloto de corrida profissional e correr no mais alto nível possível do automobilismo, acima do kart", garantiu.

A descoberta do autismo em sua vida fez com que Dimy passasse a interpretar o automobilismo como o seu hiperfoco, ou interesse restrito, que é a capacidade que pode ser desenvolvida por pessoas com TEA para manter a atenção voltada para um interesse específico — como idiomas, astronomia ou música.

O jovem afirma que o diagnóstico representou um melhor entendimento sobre si. "Fez muita diferença pra mim. Eu sabia que era diferente, desde criança, e isso serviu para explicar o motivo", diz.

Fonte: Globo