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Produção de tilápia deverá ser uma das mais prejudicadas. Foto: Jonathan Campos/AEN
Produtores de madeira, cortiça, café, papel, açúcar e pescado deverão ser afetados com taxação de 50% imposta pelos EUA para tentar evitar condenação do ex-presidente
Como o tarifaço de Trump e Bolsonaro vai prejudicar a economia do Paraná
Os setores de madeira, cortiça, café, papel, açúcar e pescado deverão ser os mais prejudicados no Paraná pela taxação de 50% dos produtos brasileiros, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na semana passada, para tentar forçar o fim do processo em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) responde por tentativa de golpe de Estado e organização criminosa. No ano passado, segundo o governo do Paraná, as exportações para os Estados Unidos representaram US$ 1,6 bilhão, cerca de R$ 8,8 bilhões.
Levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas) mostra que o setor que mais vendeu para os EUA no ano passado foi o de manufatura de cortiça e madeira, que respondeu por 20,3% das exportações. Foram US$ 286,2 milhões em 2023 e US$ 321,7 milhões em 2024, um crescimento 12,3% (veja a tabela abaixo). Produtores de cortiça e madeira exportaram o equivalente a R$ 292,8 milhões.
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Um dos setores que mais deve sofrer é o de pescados. Em maio deste ano, matéria publicada pela Agência Estadual de Notícias do governo do Paraná comemorou o crescimento do setor: em cinco anos, o faturamento do setor cresceu 4.600%, de US$ 233,2 mil, nos primeiros quatro meses de 2020, para mais de US$ 11 milhões no mesmo período deste ano.
Segundo a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), a quase totalidade da produção de pescados no estado é exportada para os EUA. “Exportamos muitos produtos florestais, café e pescado. Cerca de 98% do pescado exportado pelo Paraná vai para os Estados Unidos. É praticamente o único país que compra o nosso pescado. Muitos produtos florestais, além de café e couro, que o mercado interno acaba não absorvendo, vão para exportação”, diz Anderson Sartorelli, técnico do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep.
Fonte: Dieese-PR
Sartorelli avalia que, quando o tarifaço entrar em vigor (no dia 1º de agosto, segundo Trump), os importadores norte-americanos terão que fazer as contas para saber se ainda será viável importar do Brasil. “Essa tarifa terá que ser absorvida de alguma forma caso se queira manter essa relação comercial. Quanto cada um vai conseguir absorver, é um dado difícil de prever", afirma. "Mas para alguns produtos, como couro, que tem tido as margens diminuídas nos últimos anos, vai ficar quase inviável. Tem que ver como o mercado interno vai absorver esses produtos. Isso vai impactar em todas as cadeias”.
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País é o segundo principal destino dos produtos paranaenses
A cadeia produtiva norte-americana também deverá ser afetada. “Muitos produtos brasileiros que são exportados têm valor agregado lá nos Estados Unidos. Se levarmos em conta o suco de laranja, que é um dos principais produtos exportados pelo Brasil, tem toda uma cadeia agroindustrial lá, que agrega valor até chegar ao consumidor. Essa cadeia lá acaba vai ser prejudicada", afirma Anderson Sartorelli. "Não só os consumidores vão pagar mais caro, isso vai impactar na geração de empregos e de riqueza, pode gerar uma inflação interna. É uma jogada bem errada da parte do Trump”.
A Faep defende negociações. “Os setores vão se reunir com o governo federal para alinhar alguns pontos e o presidente Lula assinou o decreto da lei da reciprocidade. Defendemos buscar vias diplomáticas para essa questão, que a gente sabe que, economicamente, não tem justificativa. Desde 2009 os Estados Unidos têm superávit nas nossas relações comerciais", diz o técnico da Faep.
"Antes da reciprocidade, temos que esgotar as possibilidades de negociação e aí sim, se não houver outra alternativa, aplicar essa lei, até para garantir a soberania do país. Se sucumbirmos a todas as pressões externas, vamos chegar a um ponto em que vai ficar difícil”.
Anderson Sartorelli, técnico do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep
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Indústria
Os setores de "máquinas e aparelhos especializados para determinadas indústrias" e de "máquinas e aparelhos elétricos diversos", segundo o Dieese, representam uma boa fatia das exportações paranaenses para os Estados Unidos. No ano passado, os valores chegaram a US$ 200 milhões e US$ 128,3 milhões, respectivamente, ocupando o terceiro e o quarto lugares.
A Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Faep) emitiu uma nota em que expressou preocupação com o tarifaço, visto como uma ameaça direta à competitividade do agronegócio brasileiro no mercado internacional.
Segue a nota técnica da Fiep:
A aplicação da tarifa de 50% pelos Estados Unidos sobre todos os produtos brasileiros, com vigência a partir de 1º de agosto de 2025, representa um cenário de profunda preocupação para a economia do Paraná. Os Estados Unidos consolidaram-se como o segundo principal parceiro comercial do estado, com exportações totalizando US$ 1,587 bilhão em 2024. Essa medida unilateral ameaça uma relação comercial historicamente importante para o Estado, principalmente no que tange o setor do agronegócio.
Setores-chave da economia paranaense, como de produtos florestais (madeira, celulose, papel), café, couros, pescados e diversos produtos alimentícios, que representam uma parte significativa da pauta exportadora do estado, são particularmente vulneráveis a este "tarifaço". A análise técnica indica a inviabilidade comercial para muitos desses produtos, o que pode levar a um aumento nos custos de produção, desemprego e uma queda nos preços internos para os produtores paranaenses. A gravidade da situação é amplificada pela natureza arbitrária da tarifa, que carece de justificativa econômica e contraria os princípios do comércio internacional.
A relação comercial entre o Paraná e os EUA tem demonstrado dinamismo. No primeiro bimestre de 2025, os EUA foram o terceiro principal destino das exportações paranaenses, com US$ 214,05 milhões. No mês de janeiro de 2025, a participação dos Estados Unidos foi de US$ 94,37 milhões, também como o terceiro maior comprador. A consistência dos Estados Unidos como um dos principais mercados de exportação do Paraná, mesmo com flutuações anuais ou mensais, demonstra que este mercado não é meramente uma opção, mas um pilar fundamental da estratégia de exportação do Estado. Uma tarifa de 50% ameaça, portanto, uma relação comercial profundamente integrada e em crescimento, com consequências sistêmicas para diversos setores.
Fonte: Secex/MDIC | Elaboração: Sistema FAEP
Para muitos produtos esse acréscimo tarifário tornará as exportações antieconômicas, especialmente aqueles com margens de lucro já apertadas ou que enfrentam desafios de competitividade no mercado global, como o setor de couros, que registrou queda de receita em 2024. A elevação dos custos de exportação em 50% significa que os produtos paranaenses se tornariam mais caros para os importadores americanos, resultando em uma perda direta de mercado, em vez de apenas uma contração.
Diante do cenário imposto pela tarifa de 50% dos Estados Unidos, O Sistema FAEP expressa sua preocupação e adota um posicionamento estratégico, que equilibra a defesa dos interesses do agronegócio paranaense com a busca por soluções pragmáticas e de parcerias sólidas de longo prazo. Enfatiza-se a importância crucial da atuação diplomática e das negociações para reverter ou mitigar a medida.
Reiteramos o compromisso com um sistema de comércio multilateral justo, não discriminatório, aberto, equitativo e transparente. O posicionamento da FAEP, portanto, não é apenas uma defesa setorial, mas também uma defesa dos pilares que sustentam o comércio global e que são essenciais para a prosperidade do agronegócio paranaense.
Frigoríficos do MS suspendem exportação
Quatro grandes frigoríficos do Mato Grosso do Sul anunciaram nesta terça-feira (15) que suspenderão a exportação de carne para os Estados Unidos. A informação foi confirmada pelo governo do estado e pelo Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (Sincadems).
"Líder de organização criminosa"
O tarifaço foi articulado pelo filho de Jair Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está licenciado. Trump justificou a taxação dizendo que Jair Bolsonaro vem sendo alvo de uma "caça às bruxas" pela Justiça brasileira, mas o pano de fundo é a reunião do Brics, realizado na semana passada no Rio de Janeiro.
Nesta terça, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, apresentou suas alegações finais no processo que investiga a tentativa de golpe de Estado. Segundo Gonet, Jair Bolsonaro "figura como líder" de uma organização criminosa, como "principal articulador, maior beneficiário e autor dos mais graves atos executórios voltados à ruptura do Estado Democrático de Direito."
Fonte: José Marcos Lopes / Site Plural