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Diálogo e cooperação é a solução para promover saúde mental no trabalho |
O modelo de trabalho atual, praticado na maioria das empresas, está dando sinais de esgotamento. Quiet quitting, burnout, queda de produtividade e desengajamento são os principais sintomas de um ambiente corporativo doente. O futuro do trabalho começa a ser desenhado agora e as transformações passam necessariamente pela construção de relações mais humanas.
Um estudo de Harvard mostrou que equipes que trabalham com líderes preocupados com a saúde mental e o bem-estar dos funcionários são mais motivadas e entregam além do esperado. Nesse artigo revelo como começar a mudar esse paradigma nas organizações e os principais empecilhos à mudança.
O modelo de trabalho praticado na maioria das empresas está dando sinais de esgotamento. Fenômenos como o quiet quietting – em que os funcionários entregam apenas o estritamente necessário para sua função –, aumento dos transtornos de saúde mental nas empresas e a classificação do burnout como uma doença do trabalho (CID-11) são alguns dos fatores que mostram que esse modelo não é mais sustentável.
No Brasil, 18% dos profissionais sofrem com a síndrome de burnout, de acordo com uma pesquisa realizada no final de 2022 pela Gattaz Health & Results, liderada pelo presidente do Conselho Diretor do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq - USP), Wagner Gattaz, que ouviu mais de 38 mil pessoas no país. Dos que participaram do estudo, 43% relataram sintomas depressivos, com 13% tendo sido diagnosticados com a doença. Queixas relacionadas à ansiedade fazem parte da rotina de 24% destes profissionais.
O impacto financeiro de não cuidar da saúde mental dos funcionários é enorme. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) divulgou um estudo que mostrou que as perdas das empresas podem chegar a 4,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, o que equivale a quase R$ 400 bilhões.
Por outro lado, uma pesquisa da Universidade de Harvard (https://hbr.org/2022/08/quiet-quitting-is-about-bad-bosses-not-bad-employees) mostrou a correlação direta entre a preocupação dos gestores com a saúde mental de seus times e a motivação para entregar além do esperado.
Na primeira linha do gráfico ao lado, podemos observar que 62% das pessoas que têm gestores que se preocupam com as necessidades dos liderados estão dispostas a ir além na sua entrega. Apenas 3% dos participantes deste grupo entregam somente o esperado para sua função (os chamados quiet quitters).
No outro extremo, vemos os resultados das empresas em que os líderes somente cobram por resultados, sem se importar com o bem-estar das pessoas. Apenas 20% dos funcionários deste grupo vão além do esperado e 14% estão no grupo dos quiet quitters.
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Estudo de Luckas Reis é referência para governo fortalecer políticas públicas de saúde mental no Brasil |
Imagine o impacto que esse aumento de comprometimento não teria na produtividade e consequentemente nos resultados do negócio?
Com tantos dados e pesquisas que apontam os caminhos para as mudanças, por que as organizações ainda não se movem nessa direção?
O primeiro fator é a falta de capacitação das lideranças no tema e no desenvolvimento de habilidades socioemocionais para lidar com seus times de uma nova maneira. Formações tradicionais em gestão não incluem o aprendizado das chamadas soft skills no currículo.
Empatia, escuta ativa e autorregulação são algumas das habilidades esperadas desse novo líder inspirador, que se conecta de forma autêntica com seus liderados, preocupando-se genuinamente com seu bem-estar.
O segundo fator é que para promover uma mudança nessa intensidade nas organizações é preciso que o tema saúde mental seja uma decisão estratégica do C-Level, pois exige a construção de uma nova cultura que só pode acontecer com o aval do corpo executivo. Aqui na Vittude temos acompanhado resultados expressivos em organizações que tratam os programas de saúde mental de forma estratégica, com retornos de até quatro vezes sobre o valor investido.
Dados e ciência como suporte à decisão
Qualquer programa de saúde mental deve iniciar por um diagnóstico, que irá mostrar um panorama do estágio atual e indicar as áreas prioritárias de atuação. Os formatos são vários: palestras de sensibilização, capacitação das lideranças, rodas de conversa, oferta de atendimento psicológico preventivo aos colaboradores, entre outros. Para ser bem-sucedido, esse deve ser um processo consistente, autêntico e duradouro.
É interessante analisar como as estruturas de trabalho que existem hoje nunca foram desenhadas considerando a saúde mental das pessoas. Frases como “é preciso separar a vida pessoal do trabalho”, ou “esconda suas emoções na empresa”, que fazem parte da velha escola de gestão, ainda são muito presentes no dia a dia de muitas organizações.
O fato é que no trabalho do futuro não haverá mais espaço para esse tipo de comportamento. As empresas estão navegando em um mundo volátil, incerto e de transformações muito rápidas, impactadas pela tecnologia exponencial. Nenhum líder é capaz de ter todos os conhecimentos para responder sozinho aos desafios de negócio que surgem. Trabalhar verdadeiramente em equipe e contar com talentos e expertises distintos no time é essencial.
A questão é que, para ter profissionais interessados e motivados nos desafios do negócio, é preciso desenvolver uma conexão autêntica e genuína entre as pessoas e cuidar de sua saúde mental. A era do trabalho humanizado chegou para ficar e será cada vez mais uma necessidade no futuro do trabalho.
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Gráfico do estudo publicado na Harvard Business Review |