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| O cientista português David Marçal é defensor da liberdade como fator fundamental para o desenvolvimento da ciência. Foto: Rui André Soares – CCA |
"O conhecimento científico dá uma vantagem tecnológica. Há vários autores que defendem esta relação entre a ciência e a liberdade, porque a ciência confere às sociedades a prosperidade para se manterem livres."
David é um dos rostos da comunicação e divulgação de ciência em Portugal. Licenciou-se em Química Aplicada pela Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa e doutorou-se em Bioquímica no ITQB – Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier, pertencente à mesma Universidade. Desde muito cedo tem mantido intensa atividade de divulgação e comunicação de ciência, algo que iniciou ainda quando era estudante.
Escreveu para peças de teatro e espetáculos de comédia enquadrados com uma forte componente científica, trabalhou nas Produções Fictícias e promoveu a divulgação e comunicação de ciência feita com humor, e acima de tudo com fatos e espírito crítico.
Licenciou-se em Química Aplicada, doutorou-se em Bioquímica, fez investigação e teve também uma breve passagem pela indústria. Sempre manteve, desde muito cedo, uma forte ligação à escrita, com diversos projetos de comunicação em revistas e em jornais, que durante vários anos foram consolidados com a sua atividade de estudante e de investigador.
O cientista concedeu uma entrevista ao site Comunidade Cultura e Arte, de Portugal.
Segundo ele, "Há uma grande incompreensão do processo científico. Precisamos todos de maior cultura científica. A sociedade precisa, no seu todo, de maior cultura científica."
Confira alguns trechos da entrevista
"É através da observação e da experiência que nós obtemos conhecimento."
"A democracia e a ciência, apesar de serem compatíveis, não são a mesma coisa. A democracia é a vontade do povo e a ciência é determinada pelos fatos, pelas provas. No entanto, a decisão política, se é feita em prol do povo, deveria ter em conta o melhor conhecimento científico. "
"O reverso da medalha é que a ciência também se dá melhor nas sociedades mais livres. A ciência precisa de liberdade para existir, é intrinsecamente anti-autoritária. Na ciência não tem razão quem está acima na hierarquia, mas sim quem apresenta provas. Isso é muito subversivo para uma sociedade autoritária. Depois desta volta toda acho que é difícil explicar porquê não há uma aposta maior. Talvez porque o caminho já percorrido possa dar alguma sensação de suficiência. Talvez porque Portugal, de facto, tenha muitas necessidades noutros campos como nos apoios sociais e no combate à pobreza. Mas parece-me que para os desafios do presente e do futuro, tanto de Portugal como da Europa, não se consegue perspectivar um modelo de desenvolvimento que não seja só sustentável mas também competitivo. Que não tenha só uma forte componente científica e um forte investimento na ciência."
"Existe o paradoxo de que vivemos numa sociedade inteiramente baseada na ciência e tecnologia mas onde muito pouca gente sabe alguma coisa de ciência e tecnologia. Esta ignorância não é tanto acerca de aplicações fabulosas da ciência, como por exemplo os telemóveis ou os medicamentos que as pessoas conhecem, mas por vezes têm um certo desligamento. As pessoas desligam a tecnologia da ciência que lhes dá origem, num certo acto de dissonância cognitiva. Muitos movimentos anti-ciência utilizam todas as aplicações da ciência, que são a internet, os telemóveis, os computadores. Essa ciência, que proporciona esses dispositivos tecnológicos, eles não questionam. Eles questionam só certos aspectos da ciência com os quais embirram, como por exemplo as vacinas [risos]. Há aqui uma característica do desconhecimento da ciência. Não é só o desconhecimento de aplicações específicas da ciência que as pessoas conhecem, mas sim do desconhecimento do processo científico. Um desconhecimento do método que lhe dá origem, de como é que nós acrescentamos novo conhecimento ao conhecimento que já existe. Isso é largamente desconhecido e tem muito a ver com a representação da ciência no espaço público que é essencialmente representada pelos resultados. É representada por um novo medicamento, por um dispositivo tecnológico novo, por uma sonda que consegue alunar na Lua. Acaba por ser representada mais pelos resultados, como se eles aparecessem magicamente. E o processo que lhes dá origem é muito oculto. O estranhamento do público com a ciência parte desta incompreensão do processo científico."
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| Imagem: Ilustração |


POR:
Thalita Bassa

