O diretor e cofundador do respeitado Nieman Journalism Lab, Joshua Benton, defende a criação de um imposto sobre os lucros de empresas como Google e Facebook como uma forma de redistribuir as fabulosas receitas das plataformas digitais.
Esta pode vir a ser uma eficiente forma de financiar jornalistas e jornais que atuam em pequenas e medias cidades, num primeiro passo para a adaptação do jornalismo ao ecossistema informativo digital.
A criação de impostos sobre o faturamento publicitário de Google e Facebook, que arrecadam por ano quantias trilionárias, funcionaria como alternativa para acordos entre as plataformas e grandes jornais, como ocorreu na Austrália e agora começa a ganhar seguidores em países como Canadá e Inglaterra.
A estratégia australiana atende apenas aos interesses de grandes conglomerados midiáticos como o comandado pelo bilionário ultraconservador Rupert Murdoch que controla quase 80% de toda a mídia de seu país e ainda grandes jornais na Inglaterra e Estados Unidos. Murdoch tem também forte influência sobre o governo da Australia que funcionou como uma espécie de preposto do grupo News Corporation, na hora de forçar as plataformas a pagarem pela publicação de notícias produzidas por veículos das empresas de Murdoch.
O acordo australiano se baseia numa lei federal aprovada em agosto de 2020 e foi assinado pelas plataformas em fevereiro de 2021. O entendimento foi encarado pela imprensa mundial como um enquadramento de Google e Facebook no complicado cenário informativo internacional. Funcionou também como um alívio temporário nas dificuldades financeiras dos grandes conglomerados midiáticos, outrora conhecidos como um “quarto poder”. O fato concreto é que a lei australiana preserva a aliança informal entre os barões da imprensa, como Murdoch, e as elites governantes.
Irrigando os “desertos informativos”
A taxação das plataformas permite a criação de um sistema, que sem inviabilizar o negócio do Google e do Facebook, poderia garantir uma transferência de renda para os profissionais do jornalismo e para os veículos de comunicação em pequenas e medias cidades, onde a crise no modelo tradicional de negócios da imprensa está provocando a formação de “desertos informativos”, regiões que ficaram sem jornais por conta da crise no setor.
Na sociedade da abundância informativa, o jornalismo local se transformou na porta de entrada das pessoas no processo de transformação das notícias em conhecimentos indispensáveis à sua sobrevivência financeira, cultura, social, emocional e profissional. Os institutos de monitoramento da opinião pública têm assinalado uma clara tendência do público a envolver-se mais com questões comunitárias locais do que com temas abstratos e complexos na economia, política e relações internacionais. Esta tendência contribuiu para um distanciamento crescente entre o público e os grandes jornais, que acabam dependendo cada vez mais da relação com as elites.
Este distanciamento é facilmente perceptível na agenda da grande imprensa brasileira onde há uma clara predominância dos assuntos vinculados à luta pelo poder entre diferentes segmentos de elite política e empresarial.
As plataformas, obviamente, se opõem ao princípio da taxação por meio de impostos, mas sua resistência será muito menor do que a previsível oposição da grande imprensa. Para os grandes jornais e redes de televisão, um acordo como o fechado na Austrália com as grandes plataformas funciona como uma tábua de salvação capaz de compensar a perda de poder econômico e de status político.
Caso a taxação venha a ser adotada, o grande desafio poderá ser a forma como será administrado o dinheiro arrecadado com o eventual pagamento de um imposto sobre lucros das plataformas digitais. Como o governo vai distribuir o dinheiro pago por empresas como Google e Facebook , fica a dúvida sobre como será possível reduzir a enorme carência de notícias locais nos municípios brasileiros considerados “desertos informativos”, onde vivem cerca de 70 milhões de pessoas.
Você sabia?
Na França, Senado aprovou imposto sobre gigantes da internet como Google e Facebook


POR:
BASSA

