O gaslighting, frequentemente é visto como uma forma de tortura psicológica. O conceito foi agora reformulado por pesquisadores da Universidade McGill e da Universidade de Toronto.
Especialistas em psicologia, neurociência e trauma — especialmente os que estudam abuso emocional afirmam que o gaslighting pode afetar profundamente a estrutura, a função e a química do cérebro humano.
Ainda que a expressão "gaslighting" não seja um termo técnico aceito em todos os campos científicos, os efeitos do abuso psicológico crônico — a forma prática que se manifesta esse fenômeno — já foram amplamente documentados por diversos autores e pesquisadores da neurociência.
Áreas do cérebro afetadas por gaslighting e abuso psicológico
A maior parte das pesquisas não trata o gaslighting isoladamente, mas sim o impacto do trauma emocional prolongado. Esses estudos mostram que ele pode afetar:
- A amígdala – ativa o sistema de alarme do cérebro. Com abusos constantes, se torna hiperativa, o que gera medo exagerado, hiper-vigilância e respostas emocionais intensas.
- O hipocampo – responsável pela memória e pelo filtro temporal das experiências. O abuso prolongado pode causar redução do volume hipocampal, afetando a memória e dando dificuldade em distinguir o passado do presente.
- O córtex pré-frontal – responsável pela regulação emocional, tomada de decisões e controle de comportamento. O estresse psicossocial prolongado pode reduzir sua atividade, dificultando o pensamento crítico e ampliando a autodesconfiança — exatamente o objetivo do gaslighting.
Evidências científicas sobre o impacto do trauma
Estudos codirecionados por pesquisadores como Eamon McCrory mostram que o abuso verbal e emocional altera redes neurais associadas a ameaça e recompensa, condicionando a percepção do mundo como perigoso e prejudicando a formação de vínculos seguros.
Pesquisas de Dana Foundation indicam que a exposição prolongada a situações abusivas pode alterar o volume cinzento do córtex auditivo e sistemas lingüísticos, inclusive daqueles processadores da linguagem — um processamento diretamente afetado em contextos de gaslighting.
Artigos publicados no Neuroscience News e por equipes da McGill University reinterpretam o gaslighting como um processo de aprendizado e manipulação do sistema de previsão cerebral, explorando expectativas de confiança e realidade compartilhada, o que torna a mente especialmente vulnerável.
Autores e pesquisas de referência
Richard J. Davidson e Seth D. Pollak – estudos sobre alterações na estrutura de matéria branca em pessoas expostas a traumas.
Jennifer Fraser – em Gaslit Brain explora como a manipulação contínua altera a capacidade de raciocinar e fortalecer pensamentos próprios.
Ella Henderson – teoriza que o gaslighting, na prática, condiciona o cérebro a dubitar de si mesmo e adotar a perspectiva do manipulador.
Resumo dos efeitos cerebrais observados
- Alterações estruturais: redução de volume em regiões associadas à memória e à regulação emocional.
- Alterações funcionais: hiperatividade amigdalar, hipoatividade pré-frontal, afetando autocontrole e pensamento crítico.
- Desequilíbrios neuroquímicos: cortisol elevado, serotonina e dopamina reduzidos, interferindo na regulação emocional e na motivação.
- Plasticidade adaptativa: o cérebro aprende que sua realidade pode ser distorcida, facilitando a continuidade do abuso.
A conclusão é que o gaslighting causa “lesão cerebral”, ou seja, a tortura psicológica provoca mudanças reais no cérebro, afetando memória, percepção, emoção e identidade.
Esses efeitos são compatíveis com quadros associados a traumas crônicos, como Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) e dissociação. Com psicoterapia, ambientes seguros e suporte contínuo, muitos desses impactos podem ser revertidos ao longo do tempo.
Fontes:
https://www.simonandschuster.com/books/Gaslit-Brain/Jennifer-Fraser/9781493090921
https://arxiv.org/abs/2304.05908?utm_source=
https://www.sciencedaily.com/releases/2025/10/251001092238.htm?utm_source=


POR:
BASSA
